Euro 2004
É difícil não ficar emocionado com que assistimos durante o Euro 2004.
As emoções, as bandeiras, o hino cantado em uníssono pelos inflamados peitos de portugueses e portuguesas. É difícil, porque tudo isto apela aos sentimentos mais primários de cada ser humano. Uma espécie de tribalismo moderno, que terá, certamente, o seu papel na prevenção da violência, permitindo a sublimação de alguns dos mais básicos instintos de territorialidade.
É também a prova cabal que o ser humano está inexoravelmente próximo do macaco. Não há nada de verdadeiramente digno, racional ou louvável naquilo que assisistimos durante essas últimas duas semanas.
É efectivamente a catarse do povo. A catarse pela alienação. De repente, nada mais importa.
E a união da tribo contra os bárbaros invasores não durou mais do que essas duas semanas. Não se extraiu daí nada que possa ser usado para o progresso do país, excepto algumas centenas de alcoólatras que descobriram que em Portugal se pode beber em todo o lado até às tantas da manhã e que, certamente, voltarão para estimular a indústria cervejeira.
Não teria sido mais barato fornecer gratuitamente a todo o país um alucinogénio com efeitos durante 15 dias? Do que construir uma dezena de estádios que estão agora condenados a ser fantasmas do europeu de futebol?
Sem dúvida, a organização do campeonato projectou grandemente a imagem de Portugal no estrangeiro e foi um exemplo de como um pequeno país pode levar a cabo um projecto da dimensão e complexidade do Euro. Mas não se retire mais do que isto. Não serviu, como muitos dizem, para dar um novo alento à alma lusitana. Todos esses efeitos foram meramente paliativos. Os problemas do País continuam os mesmos. O povo não está mais unido. A economia continua por reabilitar.
É preciso mais do que por as pessoas a pendurar bandeiras no estendal.
1 comentário:
Não poderia estar mais de acordo com tal observação, todo o universo que descreveste está em compatibilidade perfeita com o pequeno texto escrito no meu “weblog” , onde deixei patente toda a legitimidade para que as celebrações efusivas sejam efectivadas, mas deixando bem claro que todos os contornos que onde se inserem as reais questões patriotas estão desvitalizados e que existe uma gritante ausência de noção de pátria. O carácter incisivo do post, estando munido de exemplos objectivos, confere-lhe um carácter extremamente persuasivo.
Filipe Faria
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