segunda-feira, julho 12, 2004

Arte e os Artistas



Começou por ser um comentário meu aqui, mas que decidi transcrever aqui na íntegra.



"A arte, simultaneamente o cúmulo da inutilidade e a expressão máxima do génio humano, é intrinsecamente paradoxal.

O que leva uma sociedade a valorizar e admirar algo que não serve nenhum propósito utilitário, mas que apela incessamente às sensibilidades, ao sentido estético e mesmo à experiência do numinoso?

Posso oferecer duas respostas.

A primeira tem a ver com aquilo que é ser humano. A arte apresenta-se como um desafio às emoções, ou como uma experiência erótica. Porque a arte dá-nos prazer, dá-nos sensações intensas. Permite-nos admirar a beleza do nosso engenho e criar mundos imaginados, sugerir significados ocultos, estabelecer ligações insuspeitas entre entes banais...
A arte perfigura-se, assim, como a mais elevada das acções humanas. Algo que só pode ser levado a cabo por seres capazes de ver a essência do mundo real e, a partir dele, inventar um mundo novo que serve de suporte à obra.

A segunda pode ser ilustrada por outros exemplos da Natureza, em que parece estar-se a valorizar o inútil. Porque razão é que o pavão carrega as suas faustosas penas quando estas, sem dúvida, representam uma desvantagem no que diz respeito à evasão a predadores? A resposta é que um pavão que consegue exibir a sua magnífica penugem e, ainda assim, evitar predadores e apresentar um aspecto saudável é, efectivamente, um exemplar meritório e de um apelo sexual intenso para uma pavoa. Do mesmo modo, o artista na civilização humana é um ser atraente. Alguém que consegue criar algo inútil e, ainda assim, evitar ser um indigente é inevitavelmente sexy. E todos queremos ser sexy, mas só alguns acabam sendo artistas..

Bem hajam os artistas!"

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