segunda-feira, outubro 20, 2003

Assuntos Aleatórios



Fiquei uns dias sem escrever. Sem cumprir este ritual de vir aqui deixar mais uma oferenda de logorreia à blogosfera. Fi-lo por boas razões. Estive a reflectir.

Há certos acontecimentos nas nossas vidas que nos obrigam a parar, re-avaliar, planear e prosseguir. Nessas alturas, tudo o que se passa, passa-se cá dentro.

Mas não estive desatento durante todo este tempo, porque reflectir não é o mesmo que parar de viver, é apenas uma altura propícia para re-arranjar as ideias.

Em primeiro lugar, toda a gente parece um pouco desiludida com o facto de eu ter decidido iniciar um blog: "Agora também já tens disso?", "Tens um quê?..", "Quem tem blogs é só gente que não tem outro sí­tio onde fazer masturbações intelectuais!", "Mas porque é que as pessoas hão-de querer saber da tua vida?" "Eu nunca haveria de expor a minha vida na internet...".

No entanto, não fiz nada de tão estupidamente excêntrico. Blogs, com outros nomes e outros suportes, existem há *muito* tempo. Não são muito diferentes de um diário ou de um caderno com pensamentos ou anotações. Mas dirão: ah! mas um diário é uma coisa pessoal, não é para andar para aí­ a mostrar às pessoas. Bem, talvez os diários dos adolescentes contenham informação demasiado sensível para ser divulgada amplamente, mas não acredito que alguém escreva um diário sem um desejo secreto de que alguém um dia o leia. Caso contrário, seria um exercício verdadeiramente inútil.

Um blog cumpre, portanto, o objectivo dos diários, por excelência.

Havia um outro tema sobre o qual considerei escrever. Era sobre "males de amor". Mas temo que já se tenha escrito demasiado sobre o assunto. Quase tudo o que se escreve sobre afectos diz respeito a experiências muito individuais, porventura irrepetí­veis, e que pouco pode aproveitar aos outros, excepto àqueles que almejam viver os amores e desamores dos outros, em vez dos seus. Por isso, não vou dizer uma única palavra acerca do assunto e relego a abordagem do tema para uma altura em que seja capaz de fazer uma análise e sí­ntese desinteressada, desapaixonada e equilibrada do tema, para que possa servir a tantos quanto possí­vel.

Queria também dizer algo acerca do último livro de Jorge Dias de Deus, "Da Crí­tica da Ciência à Negação da Ciência". E só consigo dizer que estou desiludido. É um livro que fala de tudo e conclui muito pouco. Escrito num espírito de "Vamos ser todos amigos", não toma partido no que opõe Ciência e Pós-Modernismo. O livro pretende fazer uma síntese prematura de uma guerra antiga que há-de continuar por ainda muito tempo. Ao tentar colocar-se na virtuosa posição equidistante não é mais do que perfeitamente insosso. Não serve nem uns, nem outros. É uma verdadeira logorreia em formato de livro. Ao menos este blog só ocupa bytes :)

E ficamos assim por hoje, até depois.

quinta-feira, outubro 09, 2003

Porque é que pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas?



Não sou o primeiro a fazer esta pergunta e nunca obtive uma resposta satisfatória.

Alguns dizem que as pessoas inteligentes têm mais instrumentos para defender aquilo em que acreditam, por muito estranho que seja.

Daqui resulta que a maioria daquilo que dizemos ou pensamos são apenas racionalizações, exercícios intelectuais para que continuemos a crer nos mesmo absurdos de sempre. São formas de encontrar um justificação intelectual para uma qualquer necessidade banal.

A pergunta passa, então, a ser: Que necessidades estão na base das justificações que encontramos para as nossa crenças irracionais?

quarta-feira, outubro 08, 2003

Igualdade



Numa interacção recente com a Provedoria de Justiça levantei, entre outras, a questão de a obrigatoriedade de prestação de serviço efectivo normal (vulgo Serviço Militar Obrigatório) extensível apenas a cidadãos do sexo masculino ser ou não conciliável com o princípio da igualdade, designadamente, a igualdade entre os sexos.

Entendeu o senhor Provedor achar que sim, que essa prática em nada violava esse princípio, uma vez que dele resulta que a situações desiguais deve ser dado tratamento desigual, querendo com isto dizer que as mulheres, na sua generalidade, não estão em tão boas condições para servir na instituição castrense.

Que os indivíduos não são iguais parece evidente a toda a gente, e, portanto, não pode entender-se o principio da igualdade como um instrumento destinado a estabelecer uma igualdade absoluta. E para cumprir este desígnio de igualdade é imprescindível, como afirma o senhor Provedor, dar tratamento desigual à disparidade de situações.

Até aqui julgo que não será difícil todos concordarmos.

Agora, no meu entendimento, o verdadeiro alcance do Princípio da Igualdade é o de que o facto de um indivíduo pertencer a um dado grupo (social, sexual, linguístico, etc) não será usado como critério para adequar o tratamento que se lhe é dado. O princípio existe precisamente para evitar generalizações de pertença, não para estabelecer uma igualdade utópica, impossível e mesmo indesejável.

Não me custa acreditar que a generalidade das mulheres esteja menos apta a prestar serviço militar, o que me custa é que este julgamento seja aplicado em bloco a todas as mulheres em contraposição a todos os homens.

Dizer que se faz esta generalização por questões de economia de esforço é uma coisa, mas dar uma elasticidade tal à interpretação do Princípio da Igualdade para justificar essa discriminação acho inaceitável.


terça-feira, outubro 07, 2003

No início



No início era o verbo e pouco mais se sabe.

Este post inaugura uma aventura sem rota traçada no crescente mundo dos blogs.

Aqui escreve-se logorreia, i.e., palavras em bruto, não editadas. Uma espécie de catarse intelectual ao fim de cada dia.

Vou partilhar convosco ideias, frustações, alegrias e opiniões.

Até breve.