domingo, outubro 19, 2008
terça-feira, outubro 07, 2008
Quem é que se pode casar?
Abel: Quem é que se pode casar?
Bernardo: Quem é que se pode casar? Ora essa... Toda a gente se pode casar, sem distinção de raça, credo ou estatuto social. Nós somos a favor das liberdades e das grandes conquistas civilizacionais!!
Abel: O João e o Pedro podem casar? A Inês e a Maria podem casar?
Bernardo: Como assim?
Abel: O João pode casar com o Pedro, ou a Inês pode casar com a Maria?
Bernardo: Oh! Brincalhão! Claro que não, o casamento é só entre homem e mulher....
Abel: Porquê?
Bernardo: Porquê?! Ora.. porque sempre foi assim...
Abel: Antes de haver o divórcio também todo o casamento era perpétuo...
Bernardo: Pois, mas... mas só um homem e uma mulher podem criar uma família.... e uma família é a base da nossa sociedade.
Abel: Mas e os casais que optam por não ter filhos ou em que um dos cônjuges é estéril... Não podem eles casar?? Não podem eles fundar uma família??
Bernardo: Sim.. claro que podem. Ninguém tem culpa de ser estéril.
Abel: Então e alguém tem "culpa" de ser homossexual? De se sentir atraído pelo mesmo sexo? De querer partilhar a vida com alguém do mesmo sexo?
Bernardo: Pois.. não se trata de culpa. É que... a sociedade não está preparada... é preciso que a sociedade discuta... que se habitue à ideia.
Abel: Se não foi preciso erradicar o racismo para consagrar a plenitude da igualdade independentemente da origem étnica por que é então preciso erradicar a homofobia antes de se consagrar a plena igualdade no acesso ao casamento? Não têm os deputados a responsabilidade de definir a liberdade de todos? Não são eles os guardiões da pluralidade das gentes, os representantes de todos os cidadãos? Porque é que muitos que foram os actores principais das lutas pela liberdade de outrora se assumem agora como os conservadores da tradição? Porque é que noções elementares de igualdade são agora descartadas como assuntos efémeros, causas menores ou a vertigem de uma geração que anda ao sabor da moda? Porque é que as vidas de milhares de cidadãos e cidadãs são discutidas como se de um fait divers se tratasse? Porque é que os partidos não adoptam uma posição de princípio e preferem antes uma posição táctica de olhos postos nas próximas eleições legislativas?
Bernardo: ...
Então e quando é achas que a crise dos mercados financeiros vai chegar a Portugal?
sexta-feira, setembro 05, 2008
domingo, agosto 17, 2008
sexta-feira, junho 13, 2008
sábado, junho 07, 2008
sábado, maio 31, 2008
Acordo Ortográfico (II)
Embora haja interrelações entre uma língua e a sua forma escrita (a ortografia) são, ainda assim, entidades distintas. A língua é um instinto humano de dimensão cultural que não pode ser legislado nem por governos nem por gramáticos. A ortografia é uma convenção e há até línguas diferentes que partilham a mesma ortografia.
É claro para todos que o português do Brasil, de Portugal e dos outros países lusófonos está a divergir, sendo disso testemunho os diferentes usos do vocabulário e variações gramaticais que, de resto, ocorrem frequentemente dentro de uma mesma comunidade linguística, incluindo falantes da mesma nacionalidade. Por isso, parece-me, que as motivações do acordo ortográfico não são objectivos de uniformização cultural mas antes uma estratégia política.
Uma ortografia unificada irá permitir a adopção do português como língua de trabalho em instâncias internacionais, o que até agora era impedido pelo facto de persistirem ortografias distintas em dois grandes blocos de países, e adoptar uma ortografia preterindo a outra levantaria problemas políticos. O acordo é, assim, um instrumento de valorização da língua ao nível internacional.
Resta acrescentar que Portugal foi o primeiro a quebrar a uniformidade da ortografia portuguesa com a reforma de 1911 não tendo sequer tentado um acordo com o Brasil. Desde essa altura que se procura re-aproximar as ortografias praticadas dos dois lados do atlântico. Um século de tentativas marcadas por alguma prepotência de Portugal que está agora em condições de se redimir. Assim, o acordo introduz alterações na ortografia agora praticada tanto em Portugal como no Brasil, estando a gerar naturais contestações nos dois países. Não se trata de por os portugueses a escrever como os brasileiros, mas sim de identificar os pontos comuns e de adoptar um conjunto de regras coerente que sirva as duas comunidades linguísticas.
Podemos, claro está, insistir na política do orgulhosamente sós e na lógica de que somos os proprietários da língua portuguesa insistindo na grande longevidade da nossa cara ortografia que tem, afinal, apenas algumas décadas. Ou podemos dar ao mundo uma lição de universalismo rejeitando o sentimento de antiga potencia colonial e dando mais um passo na criação de uma verdadeira comunidade lusófona ao nível global.
Acordo Ortográfico (I)
Eu acho muito estranho que se queira defender a ortografia do português como um património cultural essencial à identidade nacional e querer colocar a questão do Acordo Ortográfico a este nível de dramatismo.
A ortografia do português foi revista inúmeras vezes ao longo da história do país e quatro vezes só no século XX. A primeira revisão com força legal operada em 1911 foi muito mais radical daquela que é instituída pelo Acordo que está em discussão, e esteve também rodeada de polémica. Mas hoje em dia as pessoas estão preparadas a defender com unhas e dentes os resultados da reforma de 1911 que foi considerada por algumas personalidades na época como um atentado à língua portuguesa, e que nos daria cadáveres mutilados em vez de palavras.
Embora se possa discutir a utilidade do Acordo, e talvez o argumento da uniformização pela uniformização não seja absolutamente convincente, o facto é que muitas petições e intervenções avulsas que se podem ler por toda a internet exageram as consequências do Acordo produzindo verdadeiros panfletos anti-acordo de conteúdo completamente falso.
Numa destas petições online pode ler-se a sugestão de que a palavra Pacto passará a escrever-se Pato, ou de que Hora passará a grafar-se Ora. O que é absurdo e completamente falso. Frequentemente esquecem-se também que na Ortografia oficial passa a admitir-se dupla grafia nas palavras cujo "c" e "p" antes de consoante são pronunciadas nas pronúncias cultas. Assim Facto continuará como ortografia admissível para esta palavra a par de Fato. Do mesmo modo, Recepção e Cacto, apesar do "p" e do "c" destas palavras não ser pronunciado em Portugal, é-o no Brasil e, consequentemente, vão manter-se também estas formas como grafia admissível.
Outra estratégia utilizada pelos opositores do Acordo é referir a introdução de mudanças que na realidade não mudam nada em Portugal, como é o caso da supressão dos acentos em "idéia", "assembléia", etc, que já não se grafam assim na ortografia de Portugal, e que por coerência e economia se estende a palavras como "jóia". etc..
Em todo o caso, houve quase 10 anos para discutir este acordo. O seu segundo protocolo modificativo foi já ratificado pelo parlamento português e uma vez assinado pelo Presidente da República entra em vigor. Fazer petições neste momento é extemporâneo.
Mais, o constante pedido de referendo a propósito do Acordo ortográfico é inconstitucional, uma vez que em Portugal é inconstitucional submeter a referendo tratados internacionais (com uma excepção introduzida há apenas alguns anos para os tratados que digam respeito ao aprofundamento da União Europeia).
segunda-feira, maio 12, 2008
sábado, abril 26, 2008
Sub(estimado)
No início do meu oitavo ano de escolaridade a directora de turma decidiu perverter as regras para a eleição do delegado e sub-delegado. O delegado, como habitualmente, foi eleito pelos pares, mas o sub-delegado, contrariamente ao que é habitual, seria escolhido dentre uma série de candidatos que teriam de fazer um discurso justificando as razões pelas quais consideravam ser adequados para o cargo.
Não tenho presente por que processo eu me vi entre os potenciais candidatos mas recordo que no meu discurso proferi a seguinte frase:
Sinto que muitas vezes no passado fui subestimado pelos meus colegas e acredito que esta é uma oportunidade para demonstrar o meu valor.
Esta declaração, que manifestamente sobrevalorizava o cargo de sub-delegado que nunca foi nada para além de um cargo meramente figurativo, demonstra bem por que é que nunca poderia ser eleito pelas vias democráticas. Fui efectivamente escolhido para o cargo pela directora de turma que apreciou a eloquência do meu discurso tendo em conta a minha tenra idade. Mas este discurso valeu-me também uma alcunha (a de "subestimado") que sobreviveria até ao fim do meu décimo segundo ano. Passados poucos anos a alcunha sofreu uma elipse e passou de "subestimado" a "sub" e as composições variáveis das turmas que frequentei, não tendo sido testemunhas desse momento fundador, acreditavam que "sub" teria origem no facto de ser sub-delegado, cargo que exerci várias vezes ao longo do meu percurso na escola secundária.
Fica, aqui, reposta a verdade dos factos.