quinta-feira, dezembro 30, 2004

Nihil novi sub sole

Há 26 anos a respirar...

Há 24 anos a estudar...

Quantos mais a pensar?

domingo, dezembro 26, 2004

Mensagem de Natal

Hoje tive a oportunidade de ver o senhor Santana Lopes a enviar a sua mensagem de Natal aos Portugueses. Não vi ali um governante, mas sim um líder medíocre com um discurso demagógico em tom de pré-campanha.

Como é habitual não houve naquelas palavras o mínimo vislumbre de discurso de Estado. Aliás, não houve naquelas palavras o vislumbre de conteúdo algum.

O senhor Santana Lopes limitou-se a enunciar várias frases, todas começadas com a fórmula "Eu, como primeiro-ministro", não houvesse alguma alma distraída ou numa tentativa de se convencer a si mesmo que sim! ainda era o chefe de Governo! usando um tom monocórdico nauseante.

De resto, ouvimos várias mensagens comoventes para os pobrezinhos e coitadinhos deste País, a quem o senhor Santana Lopes pediu esperança renovada e confessou gostar de poder resolver tudo com um "golpe de mágica", como quem diz que, com ele, só um milagre os poderia tirar da miséria.

Penso que não estarei a exagerar se disser que este discurso era expectável de uma velhinha num jantar de beneficência mas não de um Primeiro-Ministro com responsabilidades governativas.



sexta-feira, dezembro 17, 2004

<christmas-season year=2004>

domingo, dezembro 12, 2004

No more...








Ad perpetuam rei memoriam

Abdico do vício, gradual e definitivamente.


quarta-feira, dezembro 08, 2004

Dicionário do Diabo

A palavra "charme" não se encontra nos dicionários portugueses. Uma vez que, pelo menos uma parte da população, tende a usar este termo com alguma frequência damos aqui o nosso contributo para a sua definição. Não somos, é certo, lexicógrafos, mas as nossas intenções são honestas.


charme s.m. palavra sem significado para os indivíduos do sexo masculino; para a população feminina designa uma abstracta qualidade dos homens de meia-idade que lhes garante um certo grau de atractividade. ter --: ter dinheiro, um bom carro ou um vistoso apartamento. (Do Lat. carmen)

sexta-feira, dezembro 03, 2004

No comments...

- correu -te bem o teste?
- sim, professora, obrigada.
- e qual era o texto para ser analisado?
- uma crónica da laurinda alves , professora.
in Torneiras de Freud

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Um meta post

Para aquelas dezenas de almas que vêm parar a este blog em busca da definição de logorreia, aqui me desobrigo:



Logorreia

do Gr. lógos, discurso + rhoía, que corre

s. f., necessidade irresistível de falar que apresentam certos alienados;
verbosidade inútil e sem sentido.


A verdadeira rentrée



A dissolução da Assembleia da República e consequente queda do Governo de Santana Lopes marca o verdadeira fim da silly season de 2004.

terça-feira, novembro 30, 2004

E pronto...



O Conselho de Estado vai ser convocado. Ao que tudo indica, o Governo cairá e a Assembleia da República será dissolvida.

Santana Lopes acabou de dizer:

[...] O senhor Presidente acabou de me comunicar a decisão de iniciar os contactos institucionais com vista à dissolução do parlamento [...]
Como sempre respeito a decisão do senhor Presidente da República.
Não concordo, mas respeito. Não temo eleições antecipadas. Vamos tentar defender os interesses de Portugal [...]

Mulholland Dr.



Filipe Faria diz:

A industria onírica inicia a sua demanda pelo sentido pseudo lógico.
O objectivo da arte não é ter sentido aparente, é despertar algo dentro de cada um que a observa ... Se o senhor Lynch consegue isso com inúmeras mentes (não acredito que sejam todos “intelectuais”, ou "wanna be´s", ou "whatever"), tudo o resto são formulários de lógica que pouco interessam para a finalidade artística.

E eu digo:

É o paroxismo do incompreensível.

Uma coisa é comunicar sensações em bruto, sem um construto destinado à cognição. Outra é a masturbação intelectual de atirar aos outros retalhos inintelegíveis para gáudio daqueles que podem, assim, reservar para si um putativo entendimento dessa obscura arte do absurdo.

Não estou certo se este filme de Lynch cabe na primeira, na segunda ou em outra categoria.

Talvez seja um génio. Não serei eu o juiz disso.

Como dizes, o objectivo da arte pode ser simplesmente despertar sensações em bruto. Nesta concepção, um grito pode ser uma manifestação artística. Não tenho nada a opôr. Mas, nesta instância, prefiro a experiência directa.

Valorizo muito mais a arte que constrói sobre as sensações. Que as relaciona, perspectiva e explora.

Em todo o caso, existem algumas interpretações interessantes do filme de David Lynch aqui.

domingo, novembro 28, 2004

Hoje é Domingo



Os Babilónios são a primeira civilização de que há registo da utilização de uma semana de 7 dias, dedicados às 7 luminárias (Sol, Lua e cada um dos 5 planetas visíveis).

A norma ISO 8601 prescreve que a semana tem início à segunda-feira. O Domingo é, por isso, o último dia da série.

A tradição cristã reserva o Domingo, dia do Senhor, para a adoração divina.

Para nós, ateus, este dia não passa de 24 horas cheias de tédio.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Sobre coisa nenhuma



Tenho algo (quase) inútil para partilhar convosco.

Passei as últimas horas a dedicar-me ao assunto e penso estar em condições de anunciar a todos os interessados que tenho uma prova que o mínimo dos elementos de qualquer intervalo definido sobre uma lista de índices dos nós visitados de uma árvore durante uma travessia em profundidade-primeiro corresponde ao índice do antepassado comum mais próximo dos extremos do intervalo.

[...]

Quod erat demonstrandum

segunda-feira, novembro 15, 2004

Rufus Wainwright @ Aula Magna



Sábado, 13 de Novembro, 22 horas.

As luzes da Aula Magna apagam-se de repente.

No meio de fumo e de uma melodia a evocar Judy Garland entra em palco Rufus Wainwright.

Daí em diante foram quase duas horas de êxtase.

Para mim foi uma espécie de baptismo musical. Foi a primeira vez que fui a um grande concerto de música Pop de grande qualidade e fiquei siderado.

A espontaneidade, a autenticidade e a tensão emocional do trabalho de Rufus Wainwright fizeram-me experienciar o numinoso naquela noite de Sábado.

O artista também gostou da audiência. Em várias ocasiões disse estar surpreendido pela recepção calorosa e ficou a promessa de voltar com a banda.

Da minha parte, foi o confirmar de uma paixão.

Come back soon, Rufus!

quinta-feira, novembro 04, 2004

Activar o ADN



Este era o título de um artigo da revista Xis do Público de 30 de Outubro, cujo tema era este livro .

O livro, escrito por Robert Gerard, PhD fala sobre como "activar a informação contida no nosso ADN" para que passemos a "aproveitar plenamente o nosso potencial e, assim, ter uma vida mais equilibrada e saudável". Quem ficou com a estranha sensação de que isto se trata de uma reedição da ideia de que usamos apenas 10% do cérebro acertou em cheio.

O livro não li (e, diga-se, não tenciono). O artigo da revista Xis, no entanto, faz adivinhar um chorrilho de disparates new age que atingem proporções indizíveis. O pior é que o comentário ao livro não está em nenhuma secção de humor da revista. É apresentado como um livro sério e proveitoso para os leitores do Público.

Numa época em que todos andamos com a expressão "Sociedade do Conhecimento" na boca, estes tiques de obscurantismo com jargão pseudo-científico só têm paralelo nas crenças medievais.

Quer o senhor Doutor Robert Gerard dizer que andamos todos com o ADN inactivo e que por via das suas "orações de cura do ADN" podemos activá-lo? Este tipo de afirmações não tem ponta por onde se lhe pegue.

Eu tinha a inocente ideia de que o objectivo dos jornais era informar. Embora tolere frivolidades nos seus suplementos não consigo encaixar nenhum tipo de serviço neste tipo de estupidez inenarrável.


Quem se senta à frente, de novo



O povo americano escolheu ontem os membros do Colégio Eleitoral que vai eleger o próximo Presidente dos Estados Unidos num exercício de uma democracia incompreensível para os olhos europeus.

Não só o sistema eleitoral americano parece ser inutilmente rebarbativo como o mundo (fora da América) tem dificuldade em compreender como é que o presidente mais pateta da história americana pode conseguir uma expressiva reeleição.

O The Economist colocava a questão "Bush vs Kerry" desta forma: "The Incompetent OR The Incoherent?". E eu coloco desta: "Como raio é que é possível?".

Um presidente que partiu as tábuas da lei internacional, que levou o conceito de unilateralismo americano a limites inéditos, que criou o maior défice orçamental na história dos Estados Unidos... um presidente virtualmente analfabeto obteve uma das votações mais expressivas de sempre.

Isto leva-nos necessariamente a questionar os fundamentos da Democracia.

Em todo o caso acredito, acima de tudo, na soberania dos Estados e no direito de se organizarem da forma que entenderem. Estaria verdadeiramente angustiado hoje se fosse americano. Não sendo este o caso só posso desejar que a Europa saiba proteger-se das contingências das eleições americanas.

A americanofilia sofreu nestes últimos 4 anos golpes severos e tudo indica que continuará a definhar nos próximos 4. A sociedade americana tem sido nas últimas décadas uma referência fundamental para o resto do mundo mas as suas atitudes despóticas e imperialistas têm vindo igualmente a semear ódios e a fazer nascer vários tipos de anti-americanismo.

Não são apenas odiados por serem melhores. São também odiados porque podiam ser muito mais do que são.

Resta citar um texto de Hugo Fonseca,

Hoje parece ser um dia triste para a maioria dos Europeus. "Four more years" (o slogan republicano para a re-eleição do Bush) pegou e ficou. E a reacção tem vindo de vários quadrantes. Hoje alguém perguntou-me: "tens a noção que vives entre atrasados mentais?" (Portugal). Outra pessoa dizia-me "I am still in denial" (EUA). Outro ainda disse que eram como viver em 2003 e perceber que o Bush fica até 2008 sem eleições (EUA).

Vivo no condado do Cuyahoga, onde fica Cleveland. Todos os olhos estavam fixados em nós ontem à noite: quem iria ganhar o Ohio? Os resultados das principais cidades saiam, mas do Cuyahoga publicavam-se poucos ou nenhums resultados. Afinal, as mesas de voto tinham fechado às 19:30 e porque raio era 23:00 e ainda só se tinha 15% das votações? O facto é que os americanos em muitos aspectos ofereceram uma lição de humildade do mundo sobre a democracia.

Não existem sistemas perfeitos de democracia. Mas ontem foram às urnas mais de 100 milhões de pessoas votar nas eleições mais importantes algumas vez na memória do país (e do mundo?). Sabia-se que muita gente iria votar pela primeira vez e que muita gente que tinha preferido ficar em casa em eleições anteriores iria votar desta vez. Nunca se pensou que tanta gente aparecesse. O resultado foram filas e horas e horas de espera. Horas e horas de espera onde as mesas não fechavam porque toda a gente contava e ninguém fica para trás. Muitas mesas do Cuyahoga não fecharam antes das 21:00 e das 22:00 (de acordo com o reportado na televisão). A corrida presidencial decorreu em feição: não houve problemas com o voto electrónico; não houve intimidação para com os eleitores; houve um vencedor claro e absoluto 24 horas depois das eleições - e um que ganhou o total nacional.

No Cuyahoga as pessoas esta tarde estavam tristes e a chuva que caía sobre Cleveland ajudava ao clima triste. Afinal cerca de 68% das pessoas votaram em Kerry, tendo ganho dentro do condado com uma margem de 220.000 votos (total só mesmo ultrapassado em Philadelphia). Ninguém no Ohio queria tanto uma vitória do Kerry como em Cleveland, mas a cidade não são os campos e as áreas suburbanas do país. Esse país distante que chamamos América escolheu o seu candidato; mas essas pessoas não vivem ao pé das antigas torres gémeas, não olham todos os dias sobre Manhatan e não sentem o medo de andar de metro todos os dias; essas pessoas não sentem as ameaças de segurança todos os dias contra os prédios do FMI ou do Banco Mundial. A "América real" escolheu o seu candidato: pelos valores conservadores, apoiados na religião e agitando os fantasmas do medo. É esta a América com que temos que lidar.


O que eles querem



O "homem moderno" não existe.

Aquilo que se convenciou chamar de metrossexual é um conceito absolutamente imaterial na nossa sociedade. Do mesmo modo, as únicas revistas masculinas que existem versam sobre material pornográfico, futebol e novidades automóveis. Todas as outras têm como único público-alvo a comunidade homossexual.

Ora, isto não implica que não existam pessoas do sexo masculino com as putativas características de um "metrossexual", mas é mais fácil explicá-las como idiossincrasias do indivíduo do que como um grupo social.

O homem típico tem três grandes paixões na vida: futebol (ou qualquer outro desporto de substituição, desde que possa ser palco de manifestação da sua virilidade), mulheres e beber cerveja com os amigos. Todas as restantes actividades da sua vida têm como objectivo último satisfazer uma das paixões mencionadas.

Assim, o homem típico não perde tempo a ler, a perorar sobre a vida ou a escrever em blogs, excepto se tiver a percepção de que, de alguma forma, estas actividades permitam um acesso mais imediato ou com maior sucesso às supracitadas paixões.

O sucesso profissional, a estabilidade financeira e a exuberância física trazem ao homem típico, com grande probabilidade, mais mulheres. Por isso, ele persegue estes objectivos com quase tanto afinco como o objecto do seu desejo.

Ao contrário da mulher, o homem típico define-se, ou melhor, define a sua virilidade por oposição aos outros homens. Num grupo masculino, todos competem pelo sucesso: querem ser os mais entendidos em futebol, querem ter o maior sucesso com as mulheres e querem ser o campeão social das cervejolas. Enquanto que a mulher típica se define em função do homem que pretende agradar, o homem típico define-se em função dos seus pares, por vezes numa atitude autista em relação ao verdadeiro interesse das mulheres.

Dito isto, aceito todas as acusações de misantropia.

segunda-feira, novembro 01, 2004



O que elas querem



É comum dizer-se que as mulheres são inescrutáveis. Um ser misterioso sobre o qual é impossível aos homens delinear uma teoria da mente.

Não acredito que isto seja verdade.

Por outro lado, também não acredito que as mulheres possam ser caracterizadas ou mesmo definidas como se fossem meras variações do mesmo molde.

Algumas das pessoas mais admiráveis que conheço são do sexo feminino. Mas é também entre as mulheres que encontro algumas das facetas mais pungentes da humanidade.

A mulher moderna alimenta-se daquelas revistas que não fazem mais do que a reduzir a uma espécie de dona-de-casa sofisticada. A retórica é a da libertação feminina, mas o objectivo latente é sistematicamente o de casar bem, construir uma família e ter muitos filhos. No fundo, a mulher moderna continua a definir-se pela sua capacidade de agradar à sua cara-metade.

E nesta tentativa de sofisticação artificial a mulher caminha inevitavelmente para a mediocridade. Os objectivos a que se propõe são demasiado fáceis, demasiado os mesmos de sempre.

A mulher é, portanto, a primeira e mais profunda vítima de uma sociedade que se constrói com base na noção de êxito. Porque o êxito que se lhes reserva é simplesmente o sucesso na maternidade.

Os efeitos laterais deste estado de coisas é uma feminidade intolerante com tudo aquilo que frustre este programa. No fundo, a mulher moderna odeia tudo aquilo que nega o seu estatuto de fêmea e o seu papel tradicional na sociedade. A mulher moderna sonha com o homem viril do qual depende para se definir e não suporta nenhum sinal de fraqueza, de feminidade, em suma, de humanidade num homem.

É profundamente triste que as mulheres de hoje reclamem somente este papel de co-existência. É profundamente triste...


domingo, outubro 31, 2004



Esta semana que passou, e ao fim de quase 26 anos, perdi o meu estatuto de unigénito.

É verdade, nasceu a minha irmã. Tem cara de traquina, dedos de cravista e faz umas caretas adoráveis. A Inês veio ao mundo tranquilamente e assim permanece.

A sua indiferença às "grandes questões" remete-nos para a simplicidade fundamental da vida. A minha irmã goza agora de uma total e genuína liberdade, mas também de uma saudável dependência dos que a rodeiam.

Ao longo da vida perderá progressivamente ambas. Espero que o faça graciosamente.

quarta-feira, setembro 29, 2004

De volta ao trabalho



Com o início deste semestre começa também uma nova fase da minha vida.

Depois de terminar a licenciatura decidi deslocar-me em contra-ciclo. Após cerca de 6 anos no mundo real, com recibos de ordenado e IRS para pagar, eis que deixo a indústria para voltar a ser estudante, no sentido estrito.

Iniciei este mês o meu mestrado - um percurso que me deverá ocupar cerca de um ano.

Juntamente com promessas de realização pessoal, por via da actividade de investigação, vêm os votos de uma vida monástica suportada por pouco mais do que uma bolsa que representa apenas uma fracção daquilo que qualquer recém-licenciado consegue no mundo do trabalho.

Muitos se interrogam se não terá sido uma atitude temerária, especialmente se tivermos em conta as oscilações imprevisíveis da economia, deixar um emprego estável e um contrato sem termo para perseguir um sonho.

O mundo real e o mundo académico não se compadecem com lirismos oníricos. Seria, por isso, um sinal de ingenuidade pensar que poderia justificar esta minha decisão com uma mera fixação de juventude. Se assim fosse, poderia igualmente perseguir uma carreira como guarda-freio, com a qual sonhava frequentemente na infância.

Antes de mais, optar por um mestrado a tempo inteiro é um desafio, uma auto-descoberta, um teste ao limite das minhas capacidades. O próximo ano ditará aquilo que eu quero realmente fazer no futuro.

Para já, o balanço é positivo. A par do estímulo intelectual, que tem sido sempre a fonte da minha força vital, a experiência de ensino tem-se revelado enriquecedora.

O veredicto fica para depois. Até lá, viverei o hic et nunc.


sexta-feira, julho 23, 2004

News Flash



Concluí a minha licenciatura.

Perdoem a minha paroquiana necessidade de partilhar isto com o mundo