segunda-feira, novembro 01, 2004



O que elas querem



É comum dizer-se que as mulheres são inescrutáveis. Um ser misterioso sobre o qual é impossível aos homens delinear uma teoria da mente.

Não acredito que isto seja verdade.

Por outro lado, também não acredito que as mulheres possam ser caracterizadas ou mesmo definidas como se fossem meras variações do mesmo molde.

Algumas das pessoas mais admiráveis que conheço são do sexo feminino. Mas é também entre as mulheres que encontro algumas das facetas mais pungentes da humanidade.

A mulher moderna alimenta-se daquelas revistas que não fazem mais do que a reduzir a uma espécie de dona-de-casa sofisticada. A retórica é a da libertação feminina, mas o objectivo latente é sistematicamente o de casar bem, construir uma família e ter muitos filhos. No fundo, a mulher moderna continua a definir-se pela sua capacidade de agradar à sua cara-metade.

E nesta tentativa de sofisticação artificial a mulher caminha inevitavelmente para a mediocridade. Os objectivos a que se propõe são demasiado fáceis, demasiado os mesmos de sempre.

A mulher é, portanto, a primeira e mais profunda vítima de uma sociedade que se constrói com base na noção de êxito. Porque o êxito que se lhes reserva é simplesmente o sucesso na maternidade.

Os efeitos laterais deste estado de coisas é uma feminidade intolerante com tudo aquilo que frustre este programa. No fundo, a mulher moderna odeia tudo aquilo que nega o seu estatuto de fêmea e o seu papel tradicional na sociedade. A mulher moderna sonha com o homem viril do qual depende para se definir e não suporta nenhum sinal de fraqueza, de feminidade, em suma, de humanidade num homem.

É profundamente triste que as mulheres de hoje reclamem somente este papel de co-existência. É profundamente triste...


9 comentários:

Nuno D. Mendes disse...

Este post não pretendeu ser uma análise profunda do universo feminino e muito menos pretendeu ser uma enumeração sistemática das características femininas.

Tal como disse quando iniciei este blog, aqui pretendo guardar desabafos.

Se é verdade que muitas mulheres não correspondem àquilo que aqui disse, também é verdade que acredito que a descrição que fiz corresponde à maioria. Senão, basta observar quais são as revistas mais lidas em Portugal.

Com este post pretendi fazer apenas uma crítica à pseudo-modernidade que é propagandeada nessas revistas e que observo ter inúmeras seguidoras.

Este post não foi também, uma comparação entre homens e mulheres. Há homens com características muito piores do que aquelas que referi no post. Mas o assunto do dia eram as mulheres. E é nas mulheres que me impressiona mais a falta de horizontes.

morgy disse...

Correndo o risco de possivelmente não ter compreendido totalmente este teu texto, a ideia que me fica é que realmente não compreendes as mulheres. Não vou negar que não circulem por aí espécimens como os que descreves, mas eu posso dizer que não conheço nenhuma assim.
Houve uns quantos excertos que posso dizer, me tocaram particularmente: "continua a definir-se pela sua capacidade de agradar à sua cara-metade" será? será que passamos o nosso tempo a fazer tudo para agradar ao outro? Não me parece... acho mesmo que somos categorizadas de invejosas e individualistas exactamente por pensarmos às vezes até demais em nós próprias. E também não me parece que o agradar à cara-metade seja uma definição, as duas metades deveriam trabalhar para isso. Isto parece mais uma coisa do século passado em que o papel da mulher era cuidar da casa, educar os filhos, fazer o jantar e levar os chinelos ao marido...
Outra: "o êxito que se lhes reserva é simplesmente o sucesso na maternidade" muito se poderia dizer sobre isto... mas sinceramente de todas as coisas fantásticas que podemos fazer um filho é certamente a mais grandiosa de todas, deveria falar-se em sucesso na maternidade e paternidade... ou ainda estamos no tal século passado em que filhos é coisa de mulher?
Porque achas que a "mulher moderna" precisa de um homem para se definir? Preciso para partilhar um amor, para ter um filho... mas nunca para me definir. Que ideias tão estranhas sairam neste teu texto... não consigo perceber onde as vais buscar. By the way... esta gaija aqui lê a Living Etc, achas que me reduz a uma dona de casa sofisticada?

... ou seria este texto uma crítica ao filme "Stepford Wives" e eu não dei conta?

Nuno D. Mendes disse...

Em primeiro lugar, quero felicitar-te por não conheceres nenhuma mulher que corresponda ao estereótipo que descrevi.

Num país em que a revista mais lida é a Maria e em que todas as semanas as revistas femininas presenteiam as suas leitores com as últimas 10 maneiras de proporcionar sexo fantástico ao namorado é, realmente, uma enorme felicidade poder viver com total ignorância deste estado de coisas.

Toda a comunicação social dirigida a mulheres, excepto talvez a oriunda de meios mais conservadores, usa a retórica da libertação e da mulher fora da cozinha e da sua independência etc, mas apenas para cair na apologia de uma submissão encapotada. As mulheres estão agora libertas de fazer a refeição e de limpar a casa para poder investir em novas formas de agradar ao marido. Toda a construção que se faz da "mulher moderna" cai, inevitavelmente nisto. O filme "Stepford Wives" é apenas uma caricatura do que se passa, não é uma revisitação do passado.

Se leres o meu post com atenção, percebes que não estou a defender que é esta a posição natural das mulheres. Antes pelo contrário!! O que estou a dizer é que a mulher não deve submeter-se a esta pseudo-modernidade.

Concordo contigo que a construção de uma relação e o exercício da maternidade/paternidade é algo que se faz a dois, com contribuições equilibradas de cada uma das partes de acordo com a sua natureza.

Mas quantas mulheres agem desta forma?

No início do post, fiz questão de ressalvar o facto de que algumas das pessoas mais admiráveis que conheço serem mulheres. E essas, de facto, não correspondem em nada a este estereótipo. Mas não é preciso estar com muita atenção para ver em todo o lado comportamentos que o concretizam. Às vezes são pequenas coisas inocentes, mas que acabam por denotar a mundividência latente.

Não imaginas a quantidade de mulheres que despreza todo o homem que não se interessa por bricolage, que não tem um apreço especial por arraster móveis ou que não tem a mínima vontade de lhes andar a mudar pneus do carro.

A concepção limitada que a "mulher moderna" consumidora acrítica das revistas femininas tem de si mesma acaba por manifestar-se inevitavelmente nas suas expectativas em relação ao homem. O clímax da sua crueldade acaba por manifestar-se quando as suas expectativas são frustradas.

morgy disse...

oh nuno... mas isso das revistas dá para os dois lados, convém não esquecer que não só muitas dessas revistas que falas são lidas pelos homens, para além do facto de já existirem muitas dedicadas exclusivamente a eles, tão exclusivas que até teve que se inventar um novo termo - o metrosexual.
A grande maioria das mulheres vai sempre querer casar e ter filhos como os seus grandes objectivos de vida, aliás eu sou uma delas... mas não é certamente isso que as define como pessoas.
Os estereotipos de homens e mulheres vão sempre existir, têm a ver a com a educação que recebemos, e com tudo o que vemos à nossa volta. Para além de quaisquer predisposições genéticas que existam a verdade é que tudo começa com as meninas brincarem com bonecas e os meninos com carrinhos.
Por outro lado, também acredito que qualquer pessoa que ouça algumas das conversas entre mim e as minhas amigas vai ficar com a sensação que o nosso mundo se resume aquilo... bebes, gravidezes, maridos e namorados, decoração da casa, receitas (enquanto do outro lado só se fala de futebol...). Quem não nos conheça vai achar que só isto nos interessa, e depois há outros amigos, aqueles com quem se fala de cavalos, de patins, de pintar paredes, de ler livros, de musica.
Há mulheres que simplesmente não tiveram a oportunidade de desenvolver todos os interesses que as apaixonavam, e um dia olharam à volta e só viam os filhos e a cara-metade (que muitas vezes não é metade nenhuma).

ale disse...

muito interessante o teu « tratactus».discordo com muito e concordo com outro tanto .ao mesmo tempo e tudo.
de qualquer modo o esterótipo que retratas é isso mesmo , um estereótipo.existente,mas deixando espaço para um outro espectro.

mas uma coisa é certa.a emancipação feminina tornou-se um bá blá ruidoso e carvalesco que não apagou ou diluiu os papéis tradicionais masculino e feminino.o inconscinte colectivo e individual continua a perpetuá-los e reproduzi-los em esquemas de comportamneto.

isto era tudo muito fácil quando não havia escolhas.ihihi.acabei de me prder no labirinto ....

mas para concluir , para cada uma leitora da maria ou da cosmopolitan( sim , é o mesmo só mudamos de leitor semi anlafabto para leitor semi letrado)há uma silnciosa turba masculina que não lê mais do que a bola.

Nuno D. Mendes disse...

Não pretendi fazer nenhuma apologia do homem pela negação da mulher.

E, efectivamente, aquilo que descrevi fora estereótipos.

Os estereótipos são o instrumento fundamental com que raciocinamos sobre o nosso universo social. Não significa que todas as pessoas sejam estereotipadas.

Para que não restem dúvidas de que isto não é uma questão sexista, o próximo post falará sobre o "homem moderno".

Deckard disse...

"É profundamente triste que as mulheres de hoje reclamem somente este papel de co-existência".
É bem verdade que esta é a postura da mulher eclipsada pelo estigma da sociedade patriarcal.
Há uma aceitação feminina generalizada daquilo que deve ser apanágio do homem, sem que com isso, a mulher se sinta desenquadrada ou vitimizada de alguma forma.
Muitas mulheres são felizes nesta posição.

Pode ser que num futuro próximo a "Mulher Moderna", em debate neste Post, deixe de ser um mero esboço de uma "Successful Business Women" emocionalmente dependente do amor dos homens, como na série Sex and the City, para dar lugar a um ser autónomo, dinâmico, valente e sobretudo livre da dependência masculina. Uma Lara Croft do século XXI.
Ironicamente, esta ideia de uma heroina auto-suficiente não vende entre a maior parte das mulheres.
Nem o universo feminino aprecia a ficção que as torna num ser corajoso e conquistador, nem tão pouco consideram que esta postura se possa enquadrar nos seus padrões de socialização e postura no mundo.
Não defendo que todo o ser feminino tenha de ser um clone da destreza masculina, mas recuso o comodismo fácil e estagnante da mulher somente co-protagonista.
O poder não masculiniza as mulheres. Torna-as mais humanas e capazes.

Anónimo disse...

estamos portanto a inferir o que as mulheres querem à custa de um sub-conjunto das revistas que lêem?

não só não concordo com esta visão redutora como me parece que o estereótipo aqui representado, embora existente, seja bastante menos predominante que o que o texto deixa transparecer...
...mas isto é apenas a minha opinião!

(ah, e sou homem, só vai anónimo porque não tenho conta aqui - sim é a primeira vez que faço um comentário num blog :P)

Tantra Lounge disse...

Nuno realmente já te vi em melhores dias. Pela minha profissão tenho contacto com muitas mulheres durante o dia, de todo o tipo e dizer que a maioria é assim, pela minha experiencia é um absurdo. Já te vi em melhores dias.