quarta-feira, maio 09, 2007

Do tabaco


Artigo 64.º

(Saúde)


1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.

2. O direito à protecção da saúde é realizado:
[...]

b) Pela criação de condições económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam, designadamente, a protecção da infância, da juventude e da velhice, e pela melhoria sistemática das condições de vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e popular, e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo e de práticas de vida saudável.

(Constituição da República Portuguesa -- última revisão)



Embora o estilo paternalista do texto constitucional possa chocar as sensibilidades mais liberais penso que no capítulo da regulação dos locais onde se pode fumar o Estado tem um papel importante.

Em primeiro lugar, ninguém tem de levar com o fumo dos outros quando não tem alterativa, designadamente no local de trabalho. E isto inclui todos as pessoas que trabalham em cafés, restaurantes e discotecas.

O fumo e o consumo do tabaco provocam lesões graves e irreversíveis na saúde das pessoas incluíndo patologias comportamentais resultantes da dependência provocada pelo consumo.

Ninguém, na legislação proposta, está ser impedido de fumar. Simplemente estão a proteger-se os legítimos interesses da maioria da população que não fuma e que se tem, ao longo dos anos, resignado a viver em ambientes impregnados de fumo de tabaco.

E se, apesar de todos os estudos, apesar das mortes horríveis, lentas e dolorosas que podem ser vistas nos hospitais portugueses tendo como causa primária o tabagismo haja quem, reclamando uma decisão consciente e informada, quer continuar a fumar pode fazê-lo, mas sem que os outros tenham de ser vítimas dessa decisão.

Eu, infelizmente, sou fumador.. Um vício que tento combater há já alguns anos. Falta-me força de vontade e confesso ter uma fortíssima dependência. Seria fácil disfarçar esta minha fraqueza sob o argumento de estar a tomar uma decisão consciente e informada de querer continuar a fumar. Lamento dizer que, se assim fosse, eu seria uma pessoa -- e não consigo dizê-lo de forma mais simpática -- estúpida.

Os fumadores podem aproveitar esta lei para tentarem reduzir o seu consumo. Ou, se persistirem na sua decisão "consciente e informada" de continuar a fumar podem aproveitar um fenómeno que ocorre actualmente na Itália, em que as pessoas saem até à porta dos restaurantes para fumar, e acabam por meter conversa umas com as outras -- uma oportunidade de networking que os não-fumadores não têm.

Fia-te na Virgem e não vistas o colete reflector



Partiram de vários pontos do país e vão em peregrinação até ao Santuário Católico de Fátima. Centenas de peregrinos percorrem as estradas portuguesas, mas, não vá o diabo tecê-las e porque a Virgem pode estar distraída com outros afazeres, é sempre bom levar o colete reflector vestido.

domingo, maio 06, 2007

Os perigos de ter amigos imaginários - 12



Be afraid.. be VERY afraid
E continua II, III, IV, V, VI.


Para quem acha que isto é algo que se passa apenas do outro lado do Atlântico, gostaria de dizer que já assisti a pelo menos duas "conferências" do mesmo tipo de elevação científica e intelectual em Lisboa, muito embora o orador fosse menos bem-falante. O que é verdadeiramente pernicioso nestes promotores do obscurantismo é que o seu discurso é superficialmente atraente para um crente ingénuo e as suas habilidades retóricas são impressionantes. Em todo o caso, só uma audiência com um nível proverbial de ignorância pode ouvir estas afirmações sem esboçar um sorriso -- algumas são particularmente ridículas, outras são apenas a manifestação de uma enorme desonestidade intelectual.

Président Sarkozy



Voici le nouveau Président de tous les français. On dirait que j'ai rien à voir avec ces elections sauf que j'habite en France. Si j'aurais pu voter, je ne suis pas sûr si j'aurais voté Sarkozy, mais je crois que je n'aurais pas voté Ségolène non plus. Une nouvelle France commence aujourd'hui. Il faut voir s'elle sera encore accueillante.

sábado, maio 05, 2007

Os perigos de ter amigos imaginários - 11



Um adolescente(?) muito perturbado com uma mente cheia de uma mistura de teorias da conspiração, uma tremenda ignorância da teoria da evolução, uma cândida veneração da Bíblia e com um incontrolável desejo de viver num mundo infestado de demónios e outros amigos imaginários.

Os perigos de ter amigos imaginários - 10



Loucos à solta

Os perigos de ter amigos imaginários - 9



Sem comentários

Os perigos de ter amigos imaginários - 8



"Creation science" nas escolas

Os perigos de ter amigos imaginários - 7



James Randi e Homeopatia

Os perigos de ter amigos imaginários - 6



James Randi e a leitura de auras

Os perigos de ter amigos imaginários - 5



Experiência realizada por James Randi, sobre Astrologia

Os perigos de ter amigos imaginários - 4



James Randi e Richard Dawkins

Os perigos de ter amigos imaginários - 3










Palestra de Richard Dawkins. É bastante longa, mas vale a pena!

Os perigos de ter amigos imaginários - 2



Uma entrevista com Richard Dawkins, autor de The God Delusion

Os perigos de ter amigos imaginários - 1



Um entrevista com Christopher Hitchens, autor the God is not Great

sexta-feira, maio 04, 2007

quarta-feira, abril 25, 2007

A trinta e três anos de distância...

Um pequeno equívoco

Usualmente leio a blogosfera através do Google Reader. Mas ainda há pouco atrevi-me a digitar directamente o endereço do blog Blasfémias julgando que este fosse http://blasfemias.blogspot.com. Aparentemente não :-)

Mercado de Órgãos



Respondendo ao Filipe sobre a questão do mercado de órgãos de dadores vivos.

Os mercados livres são sem dúvida o mecanismo mais eficiente para distribuir bens e recursos escassos (e todos os bens e recursos são escassos). E, na minha opinião, o bem último que uma economia de mercado deve maximiar é o bem-estar individual.

Partilho da rejeição do Estado paternal que o Filipe frequentemente refere mas existem instâncias em que sistematicamente os seres humanos tomam decisões baseadas em visões enviezadas da realidade. Em particular, as pessoas têm tendência a sobrevalorizar ganhos imediatos e a desvalorizar riscos futuros. Isto assume manifesta relevância no contexto de um mercado de órgãos com dadores vivos. Doar um órgão é sempre uma decisão que comporta riscos imediatos inerentes ao próprio procedimento e riscos futuros decorrentes de uma alteração fisiológica do corpo do dador, riscos estes que, por serem incertos ou assincrónicos são tipicamente subavaliados. Por outro lado, o benefício para o receptor é igualmente incerto devido a uma miríade de complicações associadas a questões de histocompatilidade e de rejeição do transplante. Actualmente existem ainda uma série de situações em que o transplate de órgãos não é admitido, designadamente em casos em que existe uma patologia quer fisiológica quer comportamental que terá como consequência a curto prazo a deterioração do órgão transplantado. No contexto de um mercado de órgãos seria presumivelmente possível adquirir um órgão para prolongar uma vida por apenas alguns meses em detrimento de alguém que poderia usufruir de uma vida perfeitamente normal durante várias décadas.

Para eu aceitar um mercado de órgãos tudo isto teria de ser tido em conta: os riscos actuais e futuros do dador e o benefício em termos de tempo e qualidade de vida para o receptor. Só assim teríamos um gestão eficiente do recurso em questão : tempo de vida são.

Como não conheço mecanismos de mercado para maximizar este recurso conformo-me com o estado actual de coisas. Se caíssemos no erro de achar que o recurso em questão era pura e simplesmente os órgãos então criaríamos um sistema em que os cidadãos ricos do Ocidente teriam uma quase inesgotável fonte de órgãos na massa humana que pulula nos países subdesenvolvidos a preços de saldo -- uma ideia indefensável.

Uma muito melhor ideia seria investir mais na investigação em cultura de tecidos humanos e clonagem terapêutica que eliminaria de uma só vez toda esta problemática. Seria possível cultivar órgãos garantidamente histocompatíveis para cada pessoa.