domingo, abril 01, 2007

sábado, março 31, 2007

200 anos antes de Martin Luther King Jr


De l'esclavage des nègres

Si j'avais à soutenir le droit que nous avons eu de rendre les nègres esclaves, voici ce que je dirais:

Les peuples d'Europe ayant exterminé ceux de l'Amérique, ils ont dû mettre en esclavage ceux de l'Afrique, pour s'en servir à défricher tant de terres.

Le sucre serait trop cher, si l'on ne faisait travailler la plante qui le produit par des esclaves.

Ceux dont il s'agit sont noirs depuis les pieds jusqu'à la tête ; et ils ont le nez si écrasé qu'il est presque impossible de les plaindre.

On ne peut se mettre dans l'esprit que Dieu, qui est un être très sage, ait mis une âme, surtout bonne, dans un corps tout noir.

Il est si naturel de penser que c'est la couleur qui constitue l'essence de l'humanité, que les peuples d'Asie, qui font les eunuques, privent toujours les noirs du rapport qu'ils ont avec nous d'une façon plus marquée.

On peut juger de la couleur de la peau par celle des cheveux, qui, chez les Egyptiens, les meilleurs philosophes du monde, étaient d'une si grande conséquence, qu'ils faisaient mourir tous les hommes roux qui leur tombaient entre les mains.

Une preuve que les nègres n'ont pas le sens commun, c'est qu'ils font plus de cas d'un collier de verre que de l'or, qui, chez les nations policées, est d'une si grande conséquence.

Il est impossible que nous supposions que ces gens-là soient des hommes ; parce que, si nous les supposions des hommes, on commencerait à croire que nous ne sommes pas nous-mêmes chrétiens.

De petits esprits exagèrent trop l'injustice que l'on fait aux Africains. Car, si elle était telle qu'ils le disent, ne serait-il pas venu dans la tête des princes d'Europe, qui font entre eux tant de conventions inutiles, d'en faire une générale en faveur de la miséricorde et de la pitié ?

in De l'Esprit des Lois, Livre XV, chapitre 6. Montesquieu, 1748.


Para quem não for evidente, isto é um texto irónico que pretende ridicularizar as crenças comuns da época, pondo-as em evidência e a nu. Depois desta introdução, Montesquieu analisa as verdadeiras causas da escravatura. Aconselho vivamente a leitura.

TRADUÇÃO

Tivesse eu de defender o direito que tivemos de escravizar os negros, eis o que eu diria:

Tendo os povos da Europa exterminado os da América, tiveram de escravizar os de África para deles se servirem para desbravar tantas e numerosas terras.

O açúcar seria demasiado caro se a planta que o produz fosse cultivada por outros que não escravos.

Estas criaturas são negras da cabeça aos pés; e têm o nariz de tal modo achatado que é quase impossível sentir pena deles.

Não é possível crer que Deus, que é um ser sábio, tenha colocado uma alma, sobretudo boa, num corpo totalmente negro.

É tão natural pensar que é a cor que constitui a essência da humanidade, que os povos da Ásia, que fazem eunucos, negam aos negros qualquer semelhança connosco de uma forma ainda mais evidente.

A cor de pele pode ser avaliada pela cor dos cabelos que, entre os Egípcios, os melhores filósofos do mundo, era de tal importância que aniquilavam todos os homens ruivos que lhes caíssem nas mãos.

Uma prova de que os negros não possuem senso comum é que preferem um colar de vidro a um de ouro, que é tão apreciado entre as nações civilizadas.

Não é possível supormos que estas criaturas sejam homens porque se os supuséssemos homens começaríamos a crer que nós próprios não somos cristãos.

As mentes fracas exageram demasiado as injustiças feitas para com os africanos. Porque se fosse como dizem não seria de esperar que os Príncipes da Europa, que fazem entre eles tantas convenções inúteis, não tivessem já feito uma geral em favor da misericórdia e da compaixão?

Da Democracia




Está em curso uma reforma do funcionamento da Assembleia da República. Uma proposta apresentada pelo grupo parlamentar do Partido Socialista apresenta várias recomendações interessantes para melhorar o funcionamento e a imagem do Parlamento, mas algumas questões fundamentais ficam por abordar por saírem fora do âmbito da referida reforma,

Embora a Democracia me pareça a única forma aceitável de constranger a liberdade de cidadãos livres às necessidades do bem geral existem quatro pontos fulcrais que me parecem essenciais para uma democracia funcional:

  • Responsabilização dos deputados: A arquitectura constitucional portuguesa garante um quase absoluto monopólio partidário nos trabalhos parlamentares em que a responsabilidade e o poder de decisão se diluem nas estruturas dos partidos. A noção de disciplina partidária oblitera quase totalmente a necessidade de cada partido ter mais do que um representante no parlamento. Por outro lado, os deputados, apesar de serem eleitos em círculos eleitorais de carácter distrital, representam a nação, o que significa que cada cidadão não tem um representante que deva responsabilizar, mas sim 230, e que não elegeu nenhum em particular. A solução actual nem garante uma total proporcionalidade dos votos (isso só seria obtido com um único círculo nacional), nem um sistema de representação personalizado (que só se obteria com um representante específico para uma dada circunscrição eleitoral). Isto para não falar do princípio um cidadão, um voto que possibilita, em teoria, a eleição de representantes que não traduzem verdadeiramente a expressão de vontade dos cidadãos e que exige sistematicamente o recurso ao voto útil.
  • Vacuidade do debate parlamentar: Todo o debate que importa ocorre ou no seio dos partidos ou nos meios de comunicação social. O debate parlamentar reduz-se quase completamente a uma série de declarações políticas que pouco o nada fazem para mudar a posição dos parlamentares que, no fim de contas, acabam por reiterar a posição do seu partido, eventualmente com algumas concessões que são mais fruto das pressões dos media e dos grupos de interesse do que da bondade dos argumentos dos deputados dos outros partidos.
  • Decisão política versus decisão técnica: Os deputados não são nem têm de ser especialistas nos diversos temas sectorias em que são chamados a decidir. Cabe ao parlamento e, em geral, aos políticos definir estratégias e objectivos políticos e aos técnicos encontrar as soluções mais eficientes para a estratégia e objectivos comissionados. Vários equívocos poderiam ser evitados na vida política portuguesa em que os líderes frequentamente aparecem como especialistas universais se se tivesse uma noção clara das fronteiras da decisão política. Um clara definição dessa fronteira seria também vantajosa para a qualidade da nossa democracia porque os cidadãos conseguem facilmente avaliar uma decisão política mas, por vezes, têm dificuldade em avaliar os méritos de uma decisão técnica. O estabelecimento desta fronteira é particularmente importante porque os pressupostos da decisão política e da decisão técnica são fundamentalmente diferentes. A decisão política consiste numa hierarquização mais ou menos arbitrária de prioridades e de valoração relativa de princípios. A decisão técnica consiste na utilização de métodos rigorosos (embora nunca infalíveis) para determinar a solução mais eficiente para um dado problema e, logo, é um processo intrinsecamente ademocrático (a verdade não é democrática!).
  • Rejeição da ditadura da maioria: Uma sociedade democrática é uma sociedade em que devem poder conviver cidadãos livres em que a sua liberdade só seja limitada pelos constrangimentos dos imperativos do interesse geral devidamente justificados e na medida estritamente necessária. Os órgãos de soberania devem abster-se de impôr visões morais ou mundividências particulares mas devem sim definir a liberdade de todos e maximizar o bem-estar da pluralidade dos cidadãos. Não é evidente como é que um órgão parlamentar (ou qualquer órgão democraticamente eleito) possa garantir que uma democracia não degenere numa ditadura da maioria sofrendo de incontinência legiferante. Devem existir instâncias que permitam fazer este controlo. Nalguns países, instâncias judiciais de cúpula assumiram este papel, em Portugal este controlo só existe muito indirectamente. Estamos reféns da boa-vontade e da qualidade dos nossos deputados. (sei que estão a pensar na magistratura do presidente da república, mas os poderes do presidente da república estão adaptados para garantir o statu quo e não para higienizar a proliferação legislativa já existente que limita inutilmente a liberdade dos cidadãos).

sexta-feira, março 30, 2007

Nós e a Europa

Ou serão os italianos e a Europa?

Afinal, os portugueses não são os únicos com complexos. E.. quem são os europeus já agora?

quarta-feira, março 28, 2007

Quem disse que a religião não era uma doença?







Note-se também o estranho espectáculo que resulta do facto de um jornalista se armar em antiséptico (e, com isso, levar a sério alguém que é indubitavelmente desequilibrado).

terça-feira, março 27, 2007

Energia atómica

Cor



Fazendo bibliografia ao estilo da UNITED COLORS OF BENETTON.

Diagnóstico



Algum botânico ou biólogo vegetal sabe dizer-me se as minhas flores estão mortas?

segunda-feira, março 26, 2007

Grandes Portugueses



Um programa ridículo com um desfecho patético.

quinta-feira, março 08, 2007

RNAzinhos

O que eu tenho estado a estudar ultimamente:



Quase tudo em biologia se pode explicar com esquemas deste género, e é fácil ficar-se com a impressão de que, interiorizando o esquema, se compreendeu todo o mecanismo.

Na realidade não é assim. Não só os esquemas são necessariamente simplificações daquilo que se sabe, mas também: não fazem, geralmente, distinção entre factos bem estabelecidos e especulações; omitem muitas vezes pormenores importantes para quem tem interesse em fazer um modelo formal do mecanismo; são ambíguos e, por vezes, certas ilustrações, devido a opções meramente estéticas, acabam por induzir o leitor em erro.

Mas ficam sempre muito bem em artigos e apresentações. :-)

segunda-feira, março 05, 2007

Salut Lyon



Je suis en France depuis janvier et je n'ai pas eu accès internet avant la semaine dernière. Sinon, je suis déjà bien installé et je pourrai bientôt reprendre les posts ici.

À toute..

terça-feira, outubro 17, 2006

Logopenia




Temo que o título deste blog induza os seus leitores (hipotéticos) num escandaloso equívoco. Ao invés de ser um exercício logorreico, tem sido sistematicamente um exemplo de logopenia crónica.

Este deserto de ideias, esta desídia literária é, em parte, justificada por algum excesso de trabalho a par de alguma indisponibilidade intelectual. Finda que está a silly season é importante que as intervenções que aqui ofereça a uma audiência imaginária versem sobre assuntos sérios. E assuntos sérios não é coisa fácil de tratar. A honestidade intelectual exige que um assunto sério seja tratado com a profundidade devida e com a adequada ponderação. Mas num mundo de sumários executivos, de sinopses e de take home messages não há espaço (tempo, melhor dizendo) para tratar estas graves matérias com avisada atenção.

Estamos, assim, nas nossas interacções hodiernas, condenados a vislumbres, a explorações superficiais da miríade de temas que competem pela nossa atenção. A consequência imediata deste estado de coisas é que no nosso mundo de tempo escasso o mais importante é o não-dito, o deduzido e o reconstruído. E por isso o leitor tem agora responsabilidades acrescidas. Não havendo oportunidade para dizer tudo, terá o leitor de explorar as ramificações da mensagem meramente delineada. Por tudo isto, abundam neste mundo os equívocos e os trejeitos pós-modernos. Por tudo isto se ouve no Telejornal que "o futebolista vai ser operado ao calcanhar de Aquiles", ou um personagem de Telenovela balbuceando "Estás tramado, descobri o teu tendão de Aquiles!". Por tudo isto, vivemos num estado de ignorância pasmada.

quarta-feira, julho 05, 2006



Quae moerebat et dolebat,
Et tremebat cum videbat
Nati poenas incliti

domingo, junho 11, 2006




Una voce poco fa
qui nel cor mi risuono';
il mio cor ferito e' gia',
e Lindor fu che il piago'.
Si', Lindoro mio sara';
lo giurai, la vincero'.
Il tutor ricusera',
io l'ingegno aguzzero'.
Alla fin s'acchetera'
e contenta io restero'
Si', Lindoro mio sara';
lo giurai, la vincero'.
Io sono docile, son rispettosa,
sono obbediente, dolce, amorosa;
mi lascio reggere, mi fo guidar.
Ma se mi toccano dov'e' il mio debole
saro' una vipera e cento trappole
prima di cedere faro' giocar.


in Il barbiere di Siviglia, G. Rossini (1816)



Deh, vieni alla finestra, o mio tesoro,
Deh, vieni a consolar il pianto mio.
Se neghi a me di dar qualche ristoro,
Davanti agli occhi tuoi morir vogl'io!
Tu ch'hai la bocca dolce più del miele,
Tu che il zucchero porti in mezzo al core!
Non esser, gioia mia, con me crudele!
Lasciati almen veder, mio bell'amore!


in Don Giovanni o l'empio punito, W. A. Mozart (1787)

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Brokeback Mountain





O último filme de Ang Lee tem vindo a chamar as atenções nos últimos tempos. E não era para menos: há meses que só se ouvia falar de um filme de "cowboys gays". Todo este hype causa, geralmente, alguma desconfiança.

O filme revelou-se, no entanto, uma obra-prima de extrema sensibilidade. O epíteto de filme sobre "cowboys gays" é injusto e redutor. É antes uma históra sobre um relação complexa entre dois homens que nutrem um pelo outro sentimentos proibidos tanto pela moralidade da época como pelos seus próprios preconceitos. Não me alongarei muito sobre o filme e revelarei muito pouco acerca da história porque penso que quem ainda não viu deve deixar-se envolver pelo filme sem ser guiado por nenhuma interpretação que eu ofereça aqui. Se o leitor não viu ainda o filme o melhor é mesmo nem sequer ler este post.

Ennis del Mar é um homem simples e de poucas palavras que é interpretado brilhantemente por Heath Ledger. No Verão de 1963 aceita um trabalho de pastoreio na montanha Brokeback com Jack Twist (Jake Gyllenhaal). Aí surge inevitável mas inesperadamente uma paixão entre os dois homens que ambos não compreendem totalmente.

O regresso repentino da montanha que interrompe a construção da relação entre os dois é um prelúdio para o que serão as décadas seguintes e desencadeia aquilo que é o primeiro sinal da batalha interior de Ennis, perseguido por uma visão traumática de infância em que um homem (também cowboy) terá sido linchado por viver num rancho com outro.

Ambos acabam por casar e ter filhos e reencontram-se apenas volvidos 4 anos. A partir daí segue-se uma vida monótona e dolorosa pontuada apenas por algumas idas à montanha que se transforma numa espécie de santuário onde podem fugazmente viver a vida que de outro modo lhes era negada (ou que se negavam).

O filme segue o ponto de vista de Ennis e, por isso, é também lacónico e profundamente sensível. As deixas são escassas porque são os silêncios que carregam o subtexto do filme.

Não é um filme intelectual com grandes lucubrações sobre a condição dos dois homens, é antes um testemunho de uma história trágica. A escassez dos diálogos obriga-nos a vestir a pele dos personagens e a partilhar a sua tragédia.

As relações dos dois homens com as respectivas mulheres, elas também vítimas, são honestas mas muito incompletas. O filme evita os rótulos que, de outro modo, seriam inadequados à época e ao contexto em que a história se passa. Os dois homens não compreendem totalmente o que sentem e, por isso, não poderiam nunca ter comportamentos nem atitudes lineares e que hodiernamente são identificadas como gay. Não existem propriamente maus da fita, o filme retrata sobretudo o conflito dos personagens consigo mesmos e com os outros (reais ou imaginados). Não é um filme panfletário e talvez por isso tenha frustrado a comunidade gay mais militante. É um filme que consegue contar uma história de amor sem ser um melodrama e também sem ser asséptico. O facto de isto ter sido possível com um tema homossexual é provavelmente o melhor serviço que Ang Lee poderia fazer ao movimento gay.

A banda sonora carregada de pathos serve genialmente as poucas cenas em que é utilizada. As muito discutidas cenas eróticas (homo e hetero) são feitas com muito bom gosto e são essenciais para transmitir as evidentes diferenças, por um lado, entre o carácter da relação de Ennis com Jack e com a sua mulher e, por outro, a confusão de violência e carinho com que Ennis encara Jack.

As cenas finais são carregadas de um simbolismo e de uma força emotiva arrebatadoras. Uma lição de vida sem ser moralista, eis o que Ang Lee conseguiu. Neste filme está encarnada uma reflexão dolorosamente emotiva sobre a coragem para ser feliz.